sábado, 10 de janeiro de 2009

Jorge; sábado de trabalho.

Acho que está bem longe de nascer, se é que um dia nascerá, alguém que jamais tenha passado por um daqueles típicos momentos vergonhosos, que estamos muito bem acostumados a passar. Sejam eles em uma roda de amigos ou no meio da rua. Quem tiver a ousadia de falar nunca ter caído é , no mínimo, um cidadão de se desconfiar. Quem nunca pisou em falso ou esbarrou naquela linda moça com copo de suco às mãos?Pois bem, minha história não se mantém muito distante disso. Sábado de trabalho. Maçante sempre, independente do que tenha ocorrido na noite anterior. E a minha noite não foi lá das mais tranqüilas. Aniversário do Otávio, meu melhor amigo. Por mais que me sobrassem motivos pra ficar em casa, dormindo, não pude deixar de comparecer. Afinal de contas, melhor amigo é melhor amigo! No dia seguinte acordei atrasado, como era de se esperar. Tomei um banho e saí às pressas pra pegar o ônibus. Ônibus, que por sinal, estava lotado.
. – Será que ninguém desce desse ônibus para que um jovem, trabalhador, possa ir com o mínimo conforto possível ao trabalho? – Pensei incontáveis vezes.
Finalmente, para meu deleite, um adorável senhor desceu milhares de paradas antes à minha. Se não fosse a presença do boçal, sentado ao meu lado, eu poderia deliciar-me do mais belo conforto. Mas aos poucos ele e os tantos outros brutamontes foram se retirando. Dando-me assim, condições de finalmente relaxar. Seguindo a viagem, fiquei ali, pelo menos dez minutos inerte, sem mexer um sequer músculo.- Com licença, por favor? – Disse uma voz feminina, pondo fim ao meu conforto. Admito que tive uma imensa vontade de fingir que não havia ouvido. Mas fui obrigado a me virar e... Meu Deus! Que criatura divina. Sim, era ela! A mãe dos meus filhos, a musa das minhas inúmeras canções sem sucesso e das tantas noites de insônia sem explicação.. Em dois segundos havia achado a causa de todos meus problemas, até hoje, e também a solução de todos daqui pra frente. Mas pra não perder o fio da meada, prossigamos: Dei licença à moça, como era de se imaginar.. Ficamos ali, lado a lado. Eu: tenso, suando frio, trêmulo dos pés à cabeça, vermelho e procurando as palavras pra começar algo que pudesse despertar o interesse dela. Ela: quieta, sorridente e... Nada além disso. Tentei de todas as formas achar o assunto, mas fracassei. Cheguei até mesmo pedir ajuda divina, mas também não tivera sucesso algum. A moça calma, durante todo o tempo me olha fixamente, sorri e diz:- Com licença, por favor?O pedido de licença que outrora entrara em meus ouvidos como música, agora soava como um estouro, da mais forte bomba. Havia perdido ali a mulher dos meus sonhos e sabe lá Deus quando teria novamente a chance de reencontrá-la. - se é que um dia iria reencontrá-la. - Vejo a moça se levantar pra descer na parada seguinte, como se estivesse vendo ali, ir embora todos meus sonhos relacionados à minha vida amorosa. Vivi os segundos mais melancólicos e sofridos da minha vida. Acho que me senti percorrendo a Via-Crúcis, de ônibus. A tristeza súbita agora tomara conta de mim, e a única idéia que me veio à mente foi descer na parada seguinte e correr atrás da moça. Tendo de contar com a sorte para que não a perdesse de vista no meio de tantas pessoas, carros e algumas tantas ruas que se cruzavam viciosamente. E assim fiz. Desci em meio à multidão, correndo com o desespero de quem correr pra tirar um velho pai da forca... O esforço imposto sob minhas pernas e pulmões foi recompensado. Depois de correr por algum tempo pude contemplar de longe ela, a deusa, a musa... Não pude deixar de observar como mantinha sempre um semblante jovial, como se não houvesse em sua volta todo o caos metropolitano. Alguns passos à frente, me aproximo da moça, e toda tensão e tremedeira de alguns minutos atrás, faziam-se presentes mais uma vez. Cheguei até mesmo hesitar, mas optei por chamá-la logo. Diminuí a corrida, naquela rua esburacada e mal asfaltada, e com a alegria de uma criança com doces gritei:- Moça! Ei, moça!Permaneci correndo...- Moça, vo... – Caí! Isso mesmo, meu amigo, caí. Agora toda alegria de uma criança com doces, virara vergonha e... Nada mais do que vegonha. De um alduto...Sem doces. Ao fitar a moça rindo desdenhosamente da minha queda, me senti o homem mais abestalhado da face da Terra. Queria que tudo aquilo nunca tivesse acontecido. Não queria o ônibus, a moça e, principalmente, não queria o tombo. Fiquei deitado no chão durante segundos, talvez minutos, com os olhos fechados sentindo o enorme cansaço sobre meu corpo. Cem por cento inerte. Até que uma voz camarada bate no meu ombro e diz:- Jorge, acorda cara! Não vai trabalhar hoje?

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